Lula liga para Trump e discute tráfico e tensão na Venezuela; republicano diz gostar do brasileiro

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Lula e Trump apertam as mãos na Malásia (Foto: Ricardo Stuckert)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) telefonou nesta terça (2) para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A ligação ocorreu num momento em que Washington faz uma mobilização militar sem precedentes na costa venezuelana sob o pretexto de enfrentamento a cartéis que enviam drogas aos EUA.

O Palácio do Planalto escreveu, em nota, que Lula “destacou recentes operações realizadas no Brasil pelo governo federal com vistas a asfixiar financeiramente o crime organizado e identificou ramificações que operam a partir do exterior”. O republicano mostrou disposição em trabalhar com o Brasil nesse tema, ainda de acordo com o comunicado.

O texto divulgado não menciona a Venezuela. O governo Lula acompanha com apreensão uma possível intervenção dos EUA contra o regime do ditador Nicolás Maduro. O presidente brasileiro tem levantado o tema nas ocasiões em que conversa com o americano. Em telefonema no dia 6 de outubro, como a Folha mostrou, o petista argumentou que qualquer solução para a crise venezuelana deve ser pacífica e diplomática.

Mais tarde nesta terça, Trump disse que teve “uma ótima ligação” com Lula. “Gosto dele”, afirmou o republicano a jornalistas em Washington. “Conversamos sobre sanções [contra o Brasil], tivemos uma conversa muito boa. Ele é muito bom.”

Tensão

Os EUA mantêm desde agosto uma operação com o objetivo declarado de combater o narcotráfico na América Latina. A mobilização americana inclui navios, caças, milhares de militares e o maior porta-aviões do mundo.

Caracas afirma que as manobras não têm o objetivo de combater o narcotráfico, mas sim de derrubar o regime. A Casa Branca acusa o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar o Cartel de los Soles, organização criminosa cuja existência é colocada em dúvida por especialistas —o ditador nega qualquer relação com o narcotráfico.

A partir de agosto, Washington passou a bombardear embarcações no Caribe e no oceano Pacífico que supostamente estariam carregando drogas e sendo tripuladas por traficantes. O governo Trump, entretanto, não forneceu evidências de que os barcos eram ligados a grupos criminosos. Mais de 80 pessoas teriam morrido nos ataques.

Lula e Trump conversaram sobre a Venezuela na primeira reunião presencial entre os dois, na Malásia, em outubro. O presidente brasileiro se colocou como possível mediador.

“[Lula] levantou o tema, disse que a América Latina e América do Sul, especificamente onde estamos, é uma região de paz e ele se prontificou a ser um contato, ser um interlocutor, como já foi no passado, com a Venezuela para se buscar soluções que sejam mutuamente aceitáveis e corretas entre os dois países”, afirmou o chanceler Mauro Vieira.

Dois interlocutores do Departamento de Estado disseram à Folha que a sugestão foi mal recebida porque a abordagem defendida pelos EUA na ocasião não considerava negociações diplomáticas.

Recentemente, no entanto, ainda que diante de meses de pressão sobre Caracas, Trump e Maduro conversaram por telefone. Em ligação feita no dia 21 de novembro, Trump teria rejeitado uma série de pedidos feitos pelo ditador.

Agenda econômica

A chamada desta terça também tratou de temas da agenda comercial e econômica, segundo o Planalto. Lula indicou que foi “muito positiva” a decisão dos EUA de retirar a tarifa adicional de 40% imposta a alguns produtos brasileiros, incluindo carne, café e frutas.

O brasileiro também voltou a tratar do tarifaço, afirmando que ainda há outros produtos tarifados que precisam ser discutidos pelos países. E reforçou a intenção do Brasil de avançar rápido nessas negociações.

Nesta semana, documento da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre os desafios da instituição para o próximo ano apontou a interferência externa e a atuação do crime organizado como riscos para o processo eleitoral de 2026.

Ao levar diretamente a Trump ideias de cooperação contra o crime organizado e lavagem de dinheiro, Lula busca transmitir a imagem de que o Brasil tem instrumentos eficientes para atuar contra irregularidades.

O objetivo é rebater a argumentação de líderes da oposição e bolsonaristas segundo os quais facções criminosas, incluindo o PCC e o Comando Vermelho, deveriam ser classificadas de terroristas.

Operação

Auxiliares de Lula lembram que o enquadramento de grupos criminosos como terroristas é uma das principais justificativas para uma possível operação militar dos EUA na Venezuela. Nesse sentido, o Brasil quer evitar brechas que possam ser usadas no futuro para ações unilaterais contra o país.

A pauta de combate ao crime organizado ganhou mais força política após a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Na ocasião, o governador Cláudio Castro (PL) travou embates com o governo federal, mencionando falta de amparo da gestão de Lula para a segurança pública dos estados.

O governo Trump chegou a publicar carta dirigida ao governo fluminense na qual lamentou a morte de policiais e se colocou “à disposição para qualquer apoio que se faça necessário”.

Em reação às falas de Castro, o governo tratou de acelerar o andamento de pautas de autoria da gestão petista no Congresso Nacional, como a PEC da Segurança Pública, que centraliza no Executivo federal algumas diretrizes de segurança e sofre resistência de governadores.

Junto a ela, o PL Antifacção foi um dos principais objetos de embate e discussão política entre governo e oposição, após mudanças feitas no texto do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) pelo relator Guilherme Derrite (PP-SP), secretário de segurança licenciado de Tarcísio de Freitas (Republicanos).


Fonte Bem Paraná

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